terça-feira, 17 de agosto de 2010

A Verdadeira Utopia - enganados em qualquer lugar, prefiro sonhar!

Meu objetivo, como já disse, não é a revolução social.

Em discussão por fóruns aí afora, noto a constante rotulação de nós, heterodoxxxos, como pequeno-burgueses, revolucionários de boutique. Bom, repito, não somos revolucionários, não no sentido ortodoqço da palavra.

Não criarei nenhum partido que se diga de esquerda [no fundo, todo partido é de direita] e que manipule as massas para algum lado que elas não saibam exatamente se querem ou não ir.

Não criarei nenhuma igreja onde eu pregue os meus sermões e ameace as pessoas que não seguirem os meus desígnios o sofrimento eterno [isso porque meus deus amaria seus filhos!]. Na verdade, mal posso acreditar que existam pessoas que ainda hoje caiam nessa ladainha [moço, para na Era da Informação, por favor?].

Não criarei uma ONG [oh naïfe god] que, depois de muito pelejar num assistencialismo inócuo [combater a seca no nordeste!? o único assistencialismo possível é reforço em geografia!] acabe se filiando a um programa de governo que vai nos inchar, nos fazendo depender de suas verbas para depois, de uma patada só, cráss! [E ainda pagaremos de ativistas! ah, mãe, deu tudo errado, mas deu tudo certo!]

O problema não é o capitalismo, o problema é não se saber NO capitalismo, e também em qualquer outra circunstância, ou seja: o problema é a ignorância.

Há uma cultura implícita na sociedade, e não só na brasileira, mas no mundo todo, onde a intelectualização é rechaçada pelas camadas mais pobres, justamente aquelas que mais precisam dela. A detenção (há) da informação é o grande poder nesse mundo contemporâneo - fantástica estratagema a de convencer seus escravos a quererem ser ignorantes: jamais descobrirão os grilhões abaixo de seus focinhos.

No Brasil (assim como em vários outros países) há certas características muy tristes: temos uma mentalidade de colonizados sem metrópole, patriarcalista, clientelista, somos hedonistas, particularistas e imediatistas, sado-masoquistas (mas sem qualquer prazer), não afeitos à comunidades, violentamente (e violadamente) cordiais, tristemente felizes (com música: somos baianos. sem música: somos paulistas), somos vendidos e corruptores em potencial, pagadores automáticos & compulsivos de impostos e... gamers!

Gamers, sim, pois jogamos um divertido jogo de selecionar, de 2 em 2 anos, toscos personagens num videogame; tais personagens jogam em diferentes níveis (Federal, Estadual e municipal; Executivo e legislativo e... o judiciário não vem habilitado nessa "democracia"...). Pagamos taxas absurdas para vê-los jogar. Nos dizem que vamos ganhar muitos prêmios, mas na verdade, acho que o fabricante ganha muito mais quando nos "concede" algum prêmio. Mas pelo menos ganhamos algum Status: Cidadãos de bem.

Dessa forma, a minha utopia é a mais utópica de todas: uma sociedade anarka, onde as pessoas sejam suficientemente racionais para conduzir suas próprias vidas, gerindo juntos suas comunidades, sem precisar mandar em ninguém, todos entendendo que são parte do todo e que o um depende do outro e vice-versa. Uma sociedade que preze o conhecimento social prático, não submetida e não submetível, união de todos os autonomos, onde a educação seja a prioridade absoluta... Utopia: esbarra justamente no fato de que as pessoas não são boas: querem mandar e querem obedecer. Pensar, realmente, dá muito trabalho. E ninguém, ninguém mesmo, quer ter trabalho.

Já vivemos numa sociedade de ilusões. A começar pelo dinheiro. Outra ilusão, as religiões que dizem que nos salvarão (mas ninguém vai nos salvar delas?). Mais uma, a suposta educação universal que supostamente nos coloca na mesma posição inicial (para competirmos todos juntos!). Outra, empregos de enxerto (um milhão de empregos a preço de bananas). A pior das ilusões? Nossa democracia (não "A" democracia), que diz que o povo tem o poder [mas não o avisa disso], que define as regras do jogo [mas não ensina o povo a usar ainda na escola] e que ampara o sistema de auto-manutenção do verdadeiro poder (que está na política formal)... e assim vamos, navegando num mar de ilusões.

Utopia por utopia? Prefiro a minha: não quero pensar que eu tenha que guiar o povo por partidos, por igrejas, por ongs e etc. Se o povo não quiser ir, que fique. O problema é que não tiraram a venda dos olhos do verdadeiro Leviatã. A Ignorância é o inimigo. Cada Rei Reinando seu Reino.

domingo, 15 de agosto de 2010

Procurando Culpados Há Milênios: esquecemos de olhar para o espelho.

Motorista que arrastou cão até a morte é condenado a pagar indenização no RS

Lucas Azevedo
Especial para o UOL Notícias
Em Porto Alegre


Um dos envolvidos no assassinato de um cão na cidade de Pelotas (RS), em 2005, foi condenado nesta quarta-feira (11) pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a pagar indenização por danos morais coletivos.
Na noite do dia 9 de março de 2005, a cadela vira-lata Preta, que estava prenha, foi amarrada ao para-choque de um carro e arrastada pela cidade. Na época, a morte gerou comoção da população no Estado.

Segundo decisão da 21ª Câmara Cível, Alberto Neto terá que desembolsar ao canil municipal R$ 6.035,04 por danos morais. Ele já cumpriu pena de um ano de reclusão no sistema semiaberto, após condenação na esfera penal.
[blog do http://steincoval.zip.net]


É... complicado isso. Eu não sou adEvogado, não sou jurista (juro!), mas como é que funciona isso? O cara MATA propositadamente uma cadela. Tá. Só isso já seria bizarro. Mas aí o cara é condenado a pagar 6 mil PRO CANIL da cidade, que provavelmente reverterá o dinheiro para MATAR outros animais... e por DANOS MORAIS! À MORALIDADE DO CANIL!??!?! Erraram na sentença? ou no crime? ou no(s) culpado(s)?!

Canis existem para controlar a população de cães que crescem desenfreadamente nas cidades. Crescem desenfreadamente pela irresponsabilidade de supostos Seres Humanos que se dizendo racionais, usam seus cérebros para não-pensar. A castração é uma mutilação, sim. Mas já mutilamos a natureza dos cães quando os domesticamos.

Há aqueles que dizem: mas castrar esses animais é puní-los por algo de que não tem culpa. Digo: pagarão por tal crime se não tiverem uma família que zelem por eles. Cães de rua são massacrados e humilhados todas as horas e ninguém paga por tais crimes a nao ser as próprias vítimas. Cães de raça procriam e têm seus filhotes extraídos de suas mães para que seus donos tenham algum tipo de lucro sádico. Não respeitamos a natureza animal a milênios, e ainda temos a cara de pau de dizer que castrá-los é um crime!
Estamos sendo TODOS criminosos.

Lugar de animal não é na rua comendo lixo podre, nem em apartamentos e micro-quintais. Seu lugar é na natureza, no meio ambiente, e nossos costumes umbigocêntricos nos dão o direito de tirá-los de lá e colocá-los na pior das companhias: a nossa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Direto do Noticiário de Nossas Involuções:

"Justiça pune juiz corrupto com aposentadoria de R$ 25,4 mil

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) puniu ontem o ministro Paulo Medina (foto), do STJ (Superior Tribunal de Justiça), com aposentadoria compulsória com direito a R$ 25,4 mil por mês. É o mesmo salário que ele ganharia se continuasse na ativa.

A decisão do CNJ foi unânime porque há fortes indícios de que Medina participou de um esquema de venda de sentença em favor de donos de bingos e bicheiros. Cabe recurso.

O ministro já estava afastado -- mas recebendo normalmente o salário -- do STJ havia mais de três em decorrência de investigações da Polícia Federal.

Em 2007, durante a Operação Furação (ou Hurricane), a PF obteve informações de que Medina, por intermédio de seu irmão Virgílio, teria recebido em 2006 R$ 1 milhão para liberar 900 máquinas caça-níqueis apreendidas em Niterói. Posteriormente, a liminar concedida por Medina  foi cassada pelo ministra Ellen Gracie.

Almeida Castro, advogado de Medina, afirmou que seu cliente é inocente. “Virgilio usou o prestígio do  irmão sem que ele soubesse.”

Não é o primeiro magistrado que é punido com afastamento remunerado. No Congresso Nacional há uma discussão para que seja extinto esse tipo de punição que, na prática, acabando sendo um prêmio aos juízes corruptos.

Com informação da Agência Brasil."

[Retirado do fantástico blog de http://steincoval.zip.net em 13-8-10]

Tocando Corações, Estômagos, Pênis e Vaginas - pega no meu voto!

algum tempo atrás li um livro chamado "a cabeça do eleitor" [recuse imitações], o qual se dispunha a responder a respeito das preferencias dos eleitores. Achei o conteúdo simplista demais; no entanto, não sou especialista, só possa analisar com certeza as minhas opções de voto [também não creio que o sujeito que escreveu seja um especialista só porque trabalhou como acessor nesse tipo de coisa].

Mas, estamos em época de eleições. é agora que vemos como os políticos imaginam como nós pensamos. De ônibus, pensando mil besteiras, eis que surgem as piores visões numa bela manhã de sol de sexta feira... cartazes, pessoas pagas carregando cartazes e bandeiras - sem a menor idéia do que está se passando - mas, não... isso ainda não é o pior, afinal, já estamos acostumados a ver pessoas vendendo sua força de trabalho sem saber exatamente o que estão fazendo (quem seria o primeiro explorador de homens da humanidade?), o pior foi ver pessoas dentro de bonecos de um político aqui da região, andando como mascotes pra cima e pra baixo. MASCOTES DE POLÍTICOS! Não, deus não existe. eu não precisava ter visto aquilo.

É o cúmulo da representação! um boneco de tamanha um pouco superior maior que o de uma pessoa normal [diga-se, não subnutrida (espera... então uma pessoa normal é anormal numa sociedade de subnutridos?] andando pela cidade, não consegui ver outra coisa senão que: sim, eu estou em todo lugar, estou vendo seus problemas, e eu sou a solução, porém, dependo de seu voto, seu milagroso voto, para que eu possa receber salários astronomicos e imunidade parlamentar possa trabalhar pelo povo! obrigado, obrigado, mil vezes obrigado e beijo nas criOnças.
Afinal, o que eles pensam? Que ponto de nossos corpos & idéias eles querem afetar com esse tipo de coisa?? Poluindo a cidade com milhares e milhares de "santinhos" (deveriam se chamar "diabinhos") que ensinam os números que devem ser colocados na urna eletrônica (tecnofilia...). Quando vão pegar em nossas mãos para digitar os números? na próxima eleição?! não percam as próximas Tele-aulas - eleições!

O que me chateia mesmo não é a relação deles para comigo, não... eu me ponho numa postura crítica, pois estou o tempo todo analisando a corja do Caracinza. O que me chateia é a relação deles com o povo, mais simples! Ouvi comentários de uma senhora no ônibus que vai votar no sERRA por que ele vai colocar mais médicos no postinho... Cara, não vão aprender nunca? Eles prometem as mesmas coisas por um século, ainda estamos acreditando? é preciso deixar que se deteriore senão não teremos o que prometer nas próximas eleições.

esse não é um sistema que busca a perfeição, é sim um sistema que efetiva a manutenção. Não, não vão melhorar a saúde, não vão melhorar a educação, não, não vão melhorar a segurança pública - mas vão aumentar o número de policiais! Também vão aumentar o número de cadeias - claro, ou você acha que se tudo der errado eles vão parar em escolas?

Aproveitam-se das relações patriarcalistas desse Estado paizão [sou adotado], que te põe de castigo se você desobedece a ordem, mas só te faz um carinho se você fazer por merecer [obedeça a mamãe - desobedeça a ordem]. ah... e as malditas relações clientelísticas - bom, quando pelo menos vão nos pagar uma janta?

Parem com as escolas, mas principalmente CALEM OS PROFESSORES! de preferência na matriz, nas faculdades, com péssimas aulas e principalmente pouca discussão. Paralelamente ao cálice geral, vamos desacreditando a profissão também, afinal, pra quê pensar SE JÁ ESTÁ TUDO AÍ, PRONTO PRA COMPRAR?

há muito vêm dizendo: tem algo errado com esse mundo. Eu digo: tem algo de errado é com a gente.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Engolindo Sapos - o nosso jeito de alargar a garganta.

“Como é que um mundo virado de cabeça pra baixo sempre acaba se endireitando?” [Wilson]

Todos conhecem aquela velha história de que se colocarmos um sapo na água fervente, ele imediatamente tentará sair fora; no entanto, se lentamente o formos cozinhando, ele morrerá cozido na água quente praticamente sem esboçar reação.

Não sei se é verdade ou mentira, também não quero imaginar com que sadismo muitos resolveram testar isso para saciar sua curiosidade símia. No entanto, não é sobre o infeliz batráquio que quero me deter nesse post, mas sobre a irresponsabilidade humana de se aceitar enquanto o batráquio em questão.

Como foi que chegamos nesse ponto?

Sempre me detenho num ponto da história quando procuro exemplos que exemplifiquem a inépcia da razão: a ascensão, ápice e queda (?) do nazi-fascismo. Não sei se é uma fixação, mas quase sempre quando me ocorrem questionamentos sobre a nossa irracionalidade, é lá que vou fixar meu ceticismo sobre o coração humano.

Mais uma vez, sigo: Imagino uma população alemã ofendida & destruída por uma guerra promovida pelo orgulho de seu Estado. Essa população tem de engolir o peso (repassado, pois o peso recairia no Estado) do famigerado tratado de Versalhes. Inflação inimaginável, destruição, caos... são seres humanos submetidos, ora.

Antes de continuar, um detalhe: diferenciemos o povo, a população, do Estado alemão, e dos governos que advirão. Uma ideologia de Estado recai sobre um povo, ainda mais um povo naquela condição. Uma breve lida nos capítulos de livros escolares sobre este tema e saberemos de forma bastante simples que a ascensão de Hitler se deu através da propaganda e da eleição de bodes a expiar. Não é que o povo fosse inocente, não creio em inocência em gente adulta, mas a situação era bastante propícia inclusive para se expiar responsabilidades à quem quisesse abraçá-las – no caso, o Estado.

Um partideco saído de uma cervejaria começa a angariar popularidade, pregando o fortalecimento de uma Alemanha destruída, a recuperação de seu orgulho, de seu exército, investindo na idéia de um país superior para um povo superior como eram os arianos... a melhor cantada naquela mulher horrenda era a beleza do branco de seus olhos – conquistou-a e estuprou-a, mas quando foi que ela se deu conta?

Como pôde um povo que se dizia (ou que disseram por ele) tão superior, culturalmente instruído, deixar passar impunemente a perseguição e o assassínio de milhares, milhões de pessoas? Judeus, homossexuais, religiosos, intelectuais opositores, desertores, doentes... A maioria da população no mínimo desconfiava... Tantas evidências! E no entanto, deixavam passar...

Submetidos pela ideologia do Estado [mas também por algo de ruim que o espirito humano carrega], os alemães, antes rebaixados, viam-se num suposto esforço coletivo pela revalorização da Alemanha. Que se expulse um ou outro judeu, se é pelo bem da Alemanha. Eles vão ficar bem, estão indo para os campos, estão indo pra Polônia, estão indo trabalhar. Esses judeus vêm para a Alemanha e enriquecem às nossas custas, tomam nossos postos de trabalho! Um povo sem pátria, querendo tomar o mundo!

E assim, sob as vistas grossas dos alemães que confiaram ao Estado Força & Poder para tirar do caminho o que quer que fosse pelo bem da Alemanha, milhões de pessoas morreram – e foram extremamente humilhadas antes de morrer, por meses, por anos. Será que ainda eram humanos antes de morrer? Até onde vai a dignidade do ser humano? A pergunta é para o rapaz sentado na primeira fila, o do uniforme da Gestapo, bem ali.

Bem, isso é um exemplo.

Acho que ele explica bem como reagimos (ou melhor, não reagimos) ao estado de las cosas. O mundo não ficou pior de repente. Ele vem ficando pior ao longo dos séculos. O século XX foi absolutamente o século mais populoso, mais poluidor, mais violento (consideremos inclusive a violência indireta à continentes inteiros através do capitalismo), mais explorador, mais medonho, mais terrível e mais consciente de que estava fazendo tudo isso que qualquer outro. O século do pogreso.

É num contexto de capitalismo selvagem (graurrgh) que as pessoas já nascem. Já começa (como sempre) desiguais: nascer em berço de ouro ou em berço de outro. A competição começa na escola (os da escola pública... bem... competir com quem?) toca-se a vida preocupado ou com o vestibular ou com o que comer, arruma-se uma faculdade ou um emprego (ou uns bico). Disputa-se por amor, e por ódio, e por medo. Vive-se nessa vida cheia de aventuras! até a morte – que tempo para pensar nos outros!? Tem alguém passando fome? Vai procurar um emprego, vagabundo! Não tem vergonha nessa cara suja?

Nascemos numa água confortável, temperatura amena... caímos nesse mundo sem ter consciência dos trabalhos que teremos que fazer, das humilhações que teremos que passar, de quantos sapos teremos que engolir, de quantas liberdades teremos que abdicar, quantas vezes teremos que abaixar nossas cabeças, quantas vezes vão nos roubar moral e financeiramente, das doenças que vão nos infligir, das idéias que vão nos podar, das transas que vão nos brochar, das flores que nos vão abortar... aos poucos, bem aos poucos, vamos saindo do nosso charco umbilical, e vendo o mundo... vamos perguntando, vão nos semi-respondendo, e quando nos revoltamos, temos só parte de nossa geração a caminho (a menor!), e dezenas de outras ou dando os primeiros passos rumo ao questionamento ou já no processo de acomodação à sauna ao status quo.

A água vai ficando quente. Alguns adolescentes vão sentindo as cadeias que os prendem, pois se mexem. Sentem o peso de grilhões invisíveis – e não fazem idéia das toneladas de aço e concreto que os prendem a esta terra. Gritam, esperneiam, entram na fase adulta, a água vai esquentando, muitos já começam a parar, muitos espasmos, gritos, há ainda que tentar, vamos até a morte; a água já está insuportavelmente quente, mas à volta nenhum sapo reage... o sapo se vê sozinho e, fechando os olhos pensa: esses jovens, tsc tsc tsc...

As desgraças são tantas que vamos achando que é normal, que é habitual. Kundera comenta no livro A Cortina a respeito de um livro da primeira metade do século XX, onde um sujeito não suporta o som dos automóveis que começam a pipocar pelas cidades. Cada vez mais carros tomam as ruas e o sujeito já não consegue dormir. Muda-se para o interior, mas mesmo lá os carros começam a surgir, e com eles o insuportável som dos motores à combustão. No fim, o sujeito acaba dormindo em trens, viajando de um lado para o outro – o som dos trens lhe remete a tempos também barulhentos, mas aos quais ele já se acostumara.

Kundera é enfático: só nos damos conta enquanto é o começo de tudo. Vamos nos acostumando aos poucos, e nossos filhos já pegarão o bonde andando, nem ligarão. Durante a escravidão, muita gente sequer se perguntava sobre a dignidade dos negros. Durante o nazismo, apesar das evidências, ora, os judeus não tinham mesmo pátria, eram ricos e tomavam nossos empregos, então que saíssem por bem, se não quisessem ser expulsos por mal; durante o Brasil república, inúmeros escândalos de corrupção na política, mas são tantos... polícia que age como cão de caça, justiça para poucos, sub-empregos, baixos salários, sociedade do consumo quantitativo, a questão do lixo, dos menores abandonados, do crime organizado, das drogas e do aliciamento de menores... do imperialismo e do fanatismo, da hipocrisia não-praticante católica, do jeitinho e do suborno, da cerveja é da violência contra a mulher, dos acidentes no trânsito e do racismo, da homofobia e do trote, dos bancos de trilhões e dos trabalhadores de tostões... [mais reticências...]



...a água evaporou faz tempo: estamos, isto sim, é fritando na panela.



Mas tem quem goste do bronzeado.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Atabaques do Inferno: não há saída quando se cai no abismo que se é.

Estava pensando sobre Silêncio.


O velho Wilson, certa vez, comentou em seu mais conhecido livro, que tinha visto verdadeiras catarses coletivas resultantes da leitura em voz alta de poesias, ritmadas pela música ao fundo... Os poetas de rua, e daí já são pensamentos meus, seriam presos? Que efeito político suas poesias causam, quando movem uma turba que pára seus afazares para ouvir melodiosas palavras sublimarem ainda mais suas almas?

No Ocidente, a poesia escrita não é levada muito a sério como forma de aprofundamento-em-si coletivo. Lemos, sim, as poesias, mas quantas vezes nos sentimos tomados por elas? Imaginemos: se lêssemos uma poesia que muito amássemos para as pessoas na rua, será que elas se sentiriam tomadas como nós? ou será que tentariam interpretar a poesia de modo racional,ou será que ainda nos chamariam de loucos e nos mandariam tomar no cu? Não sei, mas nao consigo ver ninguém pegar na minha mão e dizer um elogio, ou qualquer coisa do tipo. Aqui preferimos ouvir coisas que não nos digam nada sobre nós mesmos, pelo menos não tão diretamente quanto um soco poético.

No Oriente, o silêncio é mais valorizado. Imagino que, quando uma palavra é dita, ela se faz necessária. Eis o valor que a poesia recitada pode ter: quer coisa mais importante contra a feiúra do mundo do que os jogos poéticos? É uma verdadeira válvula de escape, a verdadeira religião, a única coisa que faz mais sentido num mundo de menos sentido [e de muita continência].  Não estou generalizando; na verdade, penso que essa tradição está sendo massacrada pelo culto ao Caracinza. Mas, o silêncio vaga pelas ruas e fazendas, e inevitavelmente, esbarraremos nesse abismo quando menos esperarmos.

Já pensaste como as pessoas são apegadas aos sons? Quantas pessoas apreciam o silêncio e o cultivam como filosofia de vida?

Acho que o barulho é uma anestesia. Ele nos confunde de um jeito que gostamos, nos faz pensar em outras coisas. Quando estamos nas ruas, estamos com nossos MP3's; quando estamos em casa, sentamos-nos em frente a televisão (e muitos ibus só dormem se a televisão estiver monologando com eles); no comércio, gritaria & sofrimento com os alto-falantes malditos tentando nos convencer através de tímpanos danificados a longo prazo; entre amigos, é sempre necessário que as mandíbulas estejam trampolindo inúmeros perdigotos por sobre os acepipes e beberagens; enfim, o som deve estar presente.

Estar no silêncio é deparar-se consigo mesmo. Não é meramente um espelho, não há sequer imagens para se distrair. Cada segundo é um crescendo de um estalar de dedos até um tapa na própria cara. Vai-se dando conta de si mesmo e de que seus pensamentos são incompletos e bobos, de que está sempre faltando alguma coisa, e de que se é minúsculo, de que se existe uma ilha você não está nela - você está vendo-a, nada, nada e nada, e sente que nunca vai alcançá-la.

Há um certo medo de se ver no silêncio. Ninguém gosta de gente negativa.

Para não ficar sozinho nunca, o homem inventou deus(es) e amigos imaginários. Deus é um amigo imaginário mais completo por que, pelo menos em tese, te policia e te impede de pensar besteiras [pois você pensaria, se não estivessem te policiando]. Então você nunca estará na presença do que você é, mas daquilo que deve ser perante um deus que pode te punir ou te recompensar. Há um certo prazer escatológico nisto, talvez. Enquanto houver deus, o ser humano nunca estará sozinho: pode falar consigo mesmo como se estivesse falando com o super-ego, pode ir na igreja e se sentir aliviado por ter falado com deus [menos peso para carregar pro próximo pecado!], e também pode brincar de se esconder da onipresença e da onisciência quado comete seus pecaditos - viu? deus é o melhor amigo do homem [o segundo é a polícia].

Profundamente vazios - porém, altamente criativos, verdadeiros arquitetos de verdades universais! mas nada vence uma vida em silêncio. O nirvana é o silêncio, a consciência de si é silêncio. é a pura realidade de não ser nada, além do tudo - uno. Mas o nosso egumbigo precisa de barulho, precisa das luzes da cidade, precisa do show bizz!!

Imagino uma cena. Ela acorda as 5.30 da manhã com o rádio-relógio. Levanta-se, liga a TV e então desliga o rádio-relógio. Toma seu café da manhã enquanto troca de roupa, escova alguns dentes, pluga o fone no celular e ouvindo música, desliga a TV; sai. Vai ouvindo repetidamente a mesma playlist durante o longo trajeto de metrô e de ônibus e no longo caminho à pé. Chega no consultório, e se põe a falar as bobagens que fez no dia anterior, as notícias que ouviu no rádio, ou comentar o entretenimento barato da internet. Suas colegas de repetem o mesmo exercício de massacre ao silêncio pelo silêncio e só se calam quando sentem que precisam se fazer sérias pelo trabalho - mas estão no MSN, ouvindo música em fones minúsculos, cantarolando alguma coisa que não se sabe o quê [e nunca], mandando mensagens pelo celular, enfim: interagindo pelas palavras, de alguma maneira.

na hora do almoço o mesmo blá blá blá, a mesma ladainha, não se respeita sequer a comida que está na boca, que cai no prato sub-repticiamente, mas logo é coletada e tragada novamente. Tudo se repete até o fim do dia de trabalho, quando ela conecta de novo o plugue no celular e ouve as mesmas músicas no longo trajeto de volta pra casa, por horas a fio.

Entra em casa, liga a TV e então desliga o celular [a música; o celular nunca pode estar desligado]. Os tímpanos não podem parar, como os atabaques do inferno. Ouve a novela e o jornal enquanto prepara qualquer comida e espera até que tenha certeza de que o sono está tão forte que o tempo entre desligar-a-televisão-colocar-cabeça-travesseiro-REM seja irrisório. Não há silêncio sequer em seus pensamentos.

Um dia, porém, há um porém: ela chega em casa após o serviço, e percebe que não tem energia em casa. A bateria de seu celular acabara no metrô e ela já tivera que caminhar em sua própria companhia por vários quarteirões - experiência nada agradável. Ela vai para a rua, vai procurar pessoas [detalhe, ela costuma falar sozinha também]. Não se pode suportar uma noite inteira sem televisão, sem música, sem palavras. Vai para um barzinho, mas logo se enche - não se consegue ficar uma noite inteira num barzinho pela pura necessidade do barulho: uma hora ela tem que voltar: nem sempre suas amigas estão a fim de jogar conversa fora. Ela entra em casa, tateia a mesa, coloca sua bolsa. vai para o quarto, tateia a cama. se cobre e tenta dormir, afim de esperar para ver se a energia volta. não tem sono. Só tem ela, o peso do corpo e o breu da noite.

silêncio.

Repentinamente, ela lembra da mãe. Lembra que não a vê a meses. Lembra da forma carinhosa como a mãe a tratava e da forma rude que ela tornou-se. Não quer se lembrar. lembra, sem querer do ex-namorado, principalmente dos bons momentos, claro - mas não lembra de forma boa, mas com um peso no estômago - não quer lembrar de como acabaram. Lembra dos sonhos de infância, de que queria ser médica, mas acabou sendo secretária de um dentista e nunca mais sonhou de verdade. Pensou que estava com fome, mas lembrou de um programa que viu um dia antes na TV que mostrava cenas horríveis de crianças passando fome no nordeste [e que ela não mudou de canal por que não se sentiu ameaçada pelas imagens]. Lembrou que sua vida era medíocre e que nunca tinha vivido sequer UMA experiência que marcasse a vida dela de forma a ser inigualável. Lembrava que estava ficando velha, e que não tinha amigas de verdade, que seu salário não era suficiente e que morava num apartamento horrível. Lembrou-se dos irmãos, lembrou-se dos almoços de domingo, lembrou-se das brincadeiras... sentiu-se pequena e incompleta. Não sabia o que fazer, nem o que pensar. Queria dormir, mas a bateria de seu celular tinha arriado e ela não podia ouvir música para se distrair, não podia sequer ligar pra alguém. A noite caíra, e era perigoso sair. Tentou cantarolar, mas não lembrou de nenhuma música; tentou lembrar de cantigas de ninar, mas só pode cantarolar & grunhir. Sua voz estava embargada e pensava que nunca na vida queria se sentir tão só de novo: compraria um rádio à pilhas.
"E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você" [Nietzsche]

domingo, 1 de agosto de 2010

Cavalo-de-tróia. Nem queira saber quem está no fundo da caixa - ou melhor, você precisa saber.


Afinal, como deixamos em nossas asseadas casas, nossos recantos de paz, onde nada nem ninguém de fora pode vir nos obstruir de nossas vontades, de nossos desejos, enfim, em nosso castelo, viver um espião?
está alí, em cima do rack, na mesa da cozinha, está no quarto dos nossos filhos, pendurada na parede, está lá, o tele-visor. Está dizendo, mas nunca ouvindo. Está transmitindo coisas incontestáveis, está nos mostrando o que nem sempre importa ver. Está exibindo a mesma coisa sobre alguns ângulos precisamente previstos.
Como deixamos uma caixa de propaganda dominar nossas vidas? Queremos tanto assim saber o que nos oferecem para comprar? Não nos oferecerão algo melhor?
Como nos rebaixamos à sua PROGRAMAÇÃO [mais uma submissão?!]? afinal, quem está programando quem, nós ou a caixa? Por que motivo perdemos horas e horas de nossas vidas assistindo os mesmos programas, e mesmo as reprises dos mesmos programas - e ainda mais, as reprises das reprises das reprises dos comerciais! E ainda dizem ser de utilidade pública! [30 segundos sobre nossas cabeças]
Por que privilegiamos este eletrodoméstico? Por que nós estamos hipnotizados pela frequência? Por que o que esta caixa está divulgando parece ser tão mais apetitoso, tão mais bonito, tão mais interessante [essa tv parecia mais bonita na tv...]?
Esta caixa não invandiu nossas casas, individualmente. Ela não entrou com suas próprias pernas: ela fez pior, nos con[venceu] ela foi trazida para dentro por nós mesmos, um verdadeiro cavalo-de-tróia.
Parecia mais bonita na prateleira, parecia inofensiva. Aliás, ainda parece inofensiva; principalmente quando desligo quando me vejo na tela, como num espelho...

Os Cães que Precisam Ser Castrados - quem paga pra ver a peça geralmente se decepciona.

Milhares de pessoas descendo a praça vestidos com uma máscaras e sobretudos indo de frente às forças militares... gastariam toda a munição contra as pessoas, mas ainda haveriam milhares descendo... não eram pessoas, eram uma idéia, eram sonhos, desejos, medos e esperanças... mas o mais terrível é olhar as forças militares apontando as armas & esperando as ordens... será que são imunes à autonomia? Será que lavam suas mentes e os fazem perder suas identidades? Afinal, uma cidade enfrenta as forças militares: as forças militares são imunes aos ideais, será que tais individuos não podem nunca agir autonomamente, com uma moral toda própria?

Bom, não creio que todos que estão nas forças militares seriam militares se pudessem optar antes de entrar. conheço pessoas que prestaram concurso para polícia, mas também para escrivão, para outros serviços e entregaram currículos para empresas privadas... por obra do acaso, acabaram na policia e tiveram suas almas arrancadas em doses homeopáticas.  Já diria Liddell:

"Isso de que existem mais patriotas do que árvores é uma tremenda falta de previsão"

Mas no mundo capitalista (que é o que conheço), você não é o que faz, é o quanto recebe. Não importa se você bate para obter submissão, ou se constrói casas, ou se serve mesas... quanto você ganha, pois responde o que você é.

gosto daquela parte da História onde o exército se compreende enquanto primeiro, povo, e segundo trabalhadores, e entrega as armas ao povo que buscava autonomia. Se se compreenderam, ou se buscavam autonomia, é uma dúvida eterna, eu não estava lá, só me cabe interpretar o que tão dizendo por aí. Na verdade, sempre achei que a história é muito pessoal para ser levado à sério como receita.

Mas voltando ao canil à força policial: olha, eles obedecem ordens, são funcionários, a diferença é que são representantes do monopólio estatal da força bruta (e pouco cérebro), também são trabalhadores, são os garantidores de que as liberdades civis e etc sejam respeitadas, vigias do onde começa os direitos de um terminam os do outro e blá blá blá... tudo bem, poxa, a maioria dos trabalhadores sequer tem noção do impacto que seu trabalho gera na sociedade como um todo, como sua submissão serve de exemplo para seus filhos, do valor irrisório de seus salários frente a dignidade do ato de produzir-para-sustentar... uma certa inconsciência...

O problema não é a polícia, mas o policial. Aliás, vários problemas...
Mais precisamente, a violência policial.

A polícia (e aí fica subentendido quando possível que se tratam das forças estatais que detém o privilégio de poderem ser violentos) pode ser violenta? os cidadãos, nesse caso estão sendo escoltados pela policia? isso é o que se entende por proteção? Moras no centro, branco, homem, classe média e/ou alta, com ensino superior?

Nada do quê pedi à polícia nos momentos em que acreditei nela foi resolvido. A polícia que fareja se põe inoperante quando preciso dela. Não tenho motivos para acreditar nela. Acho que poucos tem, inclusive.

Em verdade, a polícia não pode cobrir o território todo: se houverem 100 casas sendo invadidas na mesma hora na mesma noite, não haverão 100 viaturas disponíveis para cobrir as chamadas. Nem 10, quem sabe. Daí derivam duas coisas: um, a seleção dos atendidos, e dois, a colaboração do povo para o status quo.

Quanto à seleção dos atendidos: Se a polícia não pode (e não quer!) cobrir 100% do território (há, chorem de rir, geógrafos tarados!) ela vai selecionar aqueles casos que beneficiarão pessoas mais importantes, que vão fazer uma propaganda mais "eficaz" de seus serviços e validar as atividades da polícia... Colaboradores, entende. Vai ajudar pobre, e pobre ajuda depois? e o trabalho que dá? e pobre tem poder, e é educado? e sabe lidar com a lei & ordem?? ahpaputaquepariu... 

Quanto à colaboração do povo: Imagine um mundo onde as pessoas [isso sempre soa monótono...], de repente, se dessem conta de que todo o sistema capitalista sofreria um abalo praticamente irrecuperável se todos tirassem, ao mesmo tempo, o dinheiro que está nas suas contas no banco. Dificil... a maioria das pessoas nem pensa no capitalismo. Agora, que tal uma coisa mais concreta, mais presente em nossas vidas... tipo: vingança, tipo violência, roubos, benefícios ilícitos e usos irregulares de coisas e idéias, coisas ilegais, entende? imagine se as pessoas desse mundo de morango de repente se dessem conta que se todo mundo invadisse as lojas, levasse tudo, invadissem as casas dos vizinhos, e o caralho a quatro, por que a polícia não daria conta de fazer sequer o suficiente. Agora, vamos converter (vade-retro!): e se fosse o nosso mundo?

As leis, o Estado, o poder da polícia só existe por que a maioria as instituiu assim, existentes. O exército não atira no povo quando é o povo como um todo que marcha sobre eles, pois também são povo, ora! Mata-se a mãe, inclusive!! O respeito às leis, os advogados, as prisões, também só existe porque a maioria aceita isso.

Mas agora vem o pior: aceitar... é um termo não muito correto. Nascemos sob esta bandeira, nao nos perguntaram nada, passamos boa parte de nossos dias de vida sentandos em carteiras onde nos dizem coisas que sequer nos interessam, que não nos fazem sentido e que em sua grande maioria sequer aproveitaremos de qualquer maneira. Não acho que aceitar seja a palavra, acho que não tivemos escolha.

vão dizer: não gostas da sociedade, saia, vá para floresta! Thoreau fez isso, e foram lá cobrar seus impostos! E tem coisas que eu amo que estão nesta sociedade, mas que não são esta sociedade, como minha família esquisita, meus animais de estimação (me convenço de que na verdade eu é que sou o animal de estimação deles), e a própria subversão e esperança de que um dia esta sociedade seja um bom lugar! O problema é como a sociedade se conformou (em todos os sentidos).

Uma velha brincadeira: se não conhecêssemos esse mundo, e tivessemos que moldar um mundo sem saber em que posição cairíamos nele, aceitaríamos que existisse uma força policial que reprimisse as greves legítimas dos trabalhadores em busca de melhores condições de trabalho [lembre-se, você poderia vir como um policial, ou como um trabalhador - ou ainda como o filho faminto dele!!]? Aliás, você permitiria que existisse um mundo onde a exploração fosse tamanha a ponto de que trabalhadores se colocassem em estado de greve?

As coisas estão como estão por que a maioria não parou pra pensar no estado das coisas. Simplesmente formam-se, ano após ano, milhares e milhares de jovens que jamais questionarão o status quo, e aliás, em sua grande maioria, estão mesmo é ativos para o consumo, preparados para competir: quem compra mais?! No mundo do ter, precisamos mesmo de polícia, e precisamos mesmo viver a ilusão de que estamos protegidos. Quando o medo aumenta, aumenta-se as verbas para as forças militares... e voltamos ao início de V de Vingança.

Para mim, a polícia não defende o povo. Defende interesses específicos, de classes específicas. Seja filho de um desembargador e ande desembargadamente, mas seja o filho de um pai desconhecido, de um favelado, ou mesmo de um trabalhador qualquer... sofrerá as tremendas consequencias da lei, de acordo com sua posição social, pois claro. A lei não é para todos, mas para os bodes expiatórios.

Os cães que gostam de morder, abuso de poder, usam-se os cassetetes, as armas, os punhos, o distintivo e os sacos pretos. Somos todos filhos do Estado, preparem-se para os castigos. Um dia precisarão deles, e verão a quem servem.

Gostamos tanto assim desse cabaré depravado?

Coletivos Instantâneos - para aceitá-la, continue na linha após a identificação.

Gosto de Coletivos.

Gosto da idéia de vários comparsas arquitetando e afinando suas quintas-cordas. Co-autoria é uma coisa que sempre mexe com concepções há muito arraigadas em minha mente. duas mãos e várias faces, ou uma face e várias mãos!

Mas não gosto da institucionalização que alguns coletivos acabam promovendo. Começam como indivíduos em uma empreitada, e logo se tornam corporações. Entendo: muitos coletivos têm receio de que pessoas estranhas ao grupo alterem a linha de pensamento habitual (isso é um efeito colateral mínimo) ou mesmo que prejudiquem o grupo, seja denunciando as atitudes ilegais que alguns coletivos trabalham eventualmente (efeito colateral dos brabos...), é compreensível, sim. Por isso gosto dos coletivos instântaneos, pena que nem sempre conseguimos dar um nome nesse filho tão bonito que tão rápido sai pro mundo.

Fiz parte de vários coletivos instantâneos, invisíveis... convocações espontâneas, absoluta voluntariedade, sem pressão, sem forçar a ideologia de cada um... fantástico, comunitas.

Encontrar compadres, eis a dificuldade... é preciso gerar confiança, e não só esperá-la dos outros. compartilhar as ações é um bom modo de ver quem está afim da ação de fato. 


por isso é bom que seja espontâneo. A única coisa que sei sobre a índole de meus compadres (para com meus ideais) é o que acabaram de realizar. Se vou fazer uma ação e conclamo um compadre, ele pode ser covarde ou preguiçoso até o último segundo; então, só quando tá tudo lá, pronto, é que sei quem esteve ao meu lado. Mas tudo se repete na próxima ação. O mesmo disso tudo vale para mim: imagino que todos que me chamam para a ação, possuem imediatamente uma memória do que eu represento, mas que só se confirma no exato segundo em que não há mais perigo.


exigência do social

não deveríamos perder as oportunidades de trocar idéias, mesmo que não seja apenas com nossos comparsas. As vezes da pior conversa de buteco que se imagina brotam as flores mais coloridas de nossa criatividade. Mas é preciso estar atento, é preciso estar sempre ativo, consciente: lapidar as pérolas foscas. Sem contar que muitos compadres "surgem" numa conversa e de repente, alguém que você nunca imaginou está mexendo a panela de farinha e água.

Se você nunca encarou uma psicotopografia noturna, nunca mexeu com tinta, nunca planejou uma invasão, um incêndio, fique atento: tem sempre alguém propondo algo nas entrelinhas. E de repente, esse alguém é você mesmo. 

sair pela tangente e dançar em cima de um poste, só não vai quem já morreu - ou quem nunca viveu!
Faça você mesmo tudo com as próprias mãos - e várias faces! Juntemos-nos!! Coletivizemos-nos!! vivas aos piqueniques noturnos, sob os olhos de éris!