domingo, 1 de agosto de 2010

Os Cães que Precisam Ser Castrados - quem paga pra ver a peça geralmente se decepciona.

Milhares de pessoas descendo a praça vestidos com uma máscaras e sobretudos indo de frente às forças militares... gastariam toda a munição contra as pessoas, mas ainda haveriam milhares descendo... não eram pessoas, eram uma idéia, eram sonhos, desejos, medos e esperanças... mas o mais terrível é olhar as forças militares apontando as armas & esperando as ordens... será que são imunes à autonomia? Será que lavam suas mentes e os fazem perder suas identidades? Afinal, uma cidade enfrenta as forças militares: as forças militares são imunes aos ideais, será que tais individuos não podem nunca agir autonomamente, com uma moral toda própria?

Bom, não creio que todos que estão nas forças militares seriam militares se pudessem optar antes de entrar. conheço pessoas que prestaram concurso para polícia, mas também para escrivão, para outros serviços e entregaram currículos para empresas privadas... por obra do acaso, acabaram na policia e tiveram suas almas arrancadas em doses homeopáticas.  Já diria Liddell:

"Isso de que existem mais patriotas do que árvores é uma tremenda falta de previsão"

Mas no mundo capitalista (que é o que conheço), você não é o que faz, é o quanto recebe. Não importa se você bate para obter submissão, ou se constrói casas, ou se serve mesas... quanto você ganha, pois responde o que você é.

gosto daquela parte da História onde o exército se compreende enquanto primeiro, povo, e segundo trabalhadores, e entrega as armas ao povo que buscava autonomia. Se se compreenderam, ou se buscavam autonomia, é uma dúvida eterna, eu não estava lá, só me cabe interpretar o que tão dizendo por aí. Na verdade, sempre achei que a história é muito pessoal para ser levado à sério como receita.

Mas voltando ao canil à força policial: olha, eles obedecem ordens, são funcionários, a diferença é que são representantes do monopólio estatal da força bruta (e pouco cérebro), também são trabalhadores, são os garantidores de que as liberdades civis e etc sejam respeitadas, vigias do onde começa os direitos de um terminam os do outro e blá blá blá... tudo bem, poxa, a maioria dos trabalhadores sequer tem noção do impacto que seu trabalho gera na sociedade como um todo, como sua submissão serve de exemplo para seus filhos, do valor irrisório de seus salários frente a dignidade do ato de produzir-para-sustentar... uma certa inconsciência...

O problema não é a polícia, mas o policial. Aliás, vários problemas...
Mais precisamente, a violência policial.

A polícia (e aí fica subentendido quando possível que se tratam das forças estatais que detém o privilégio de poderem ser violentos) pode ser violenta? os cidadãos, nesse caso estão sendo escoltados pela policia? isso é o que se entende por proteção? Moras no centro, branco, homem, classe média e/ou alta, com ensino superior?

Nada do quê pedi à polícia nos momentos em que acreditei nela foi resolvido. A polícia que fareja se põe inoperante quando preciso dela. Não tenho motivos para acreditar nela. Acho que poucos tem, inclusive.

Em verdade, a polícia não pode cobrir o território todo: se houverem 100 casas sendo invadidas na mesma hora na mesma noite, não haverão 100 viaturas disponíveis para cobrir as chamadas. Nem 10, quem sabe. Daí derivam duas coisas: um, a seleção dos atendidos, e dois, a colaboração do povo para o status quo.

Quanto à seleção dos atendidos: Se a polícia não pode (e não quer!) cobrir 100% do território (há, chorem de rir, geógrafos tarados!) ela vai selecionar aqueles casos que beneficiarão pessoas mais importantes, que vão fazer uma propaganda mais "eficaz" de seus serviços e validar as atividades da polícia... Colaboradores, entende. Vai ajudar pobre, e pobre ajuda depois? e o trabalho que dá? e pobre tem poder, e é educado? e sabe lidar com a lei & ordem?? ahpaputaquepariu... 

Quanto à colaboração do povo: Imagine um mundo onde as pessoas [isso sempre soa monótono...], de repente, se dessem conta de que todo o sistema capitalista sofreria um abalo praticamente irrecuperável se todos tirassem, ao mesmo tempo, o dinheiro que está nas suas contas no banco. Dificil... a maioria das pessoas nem pensa no capitalismo. Agora, que tal uma coisa mais concreta, mais presente em nossas vidas... tipo: vingança, tipo violência, roubos, benefícios ilícitos e usos irregulares de coisas e idéias, coisas ilegais, entende? imagine se as pessoas desse mundo de morango de repente se dessem conta que se todo mundo invadisse as lojas, levasse tudo, invadissem as casas dos vizinhos, e o caralho a quatro, por que a polícia não daria conta de fazer sequer o suficiente. Agora, vamos converter (vade-retro!): e se fosse o nosso mundo?

As leis, o Estado, o poder da polícia só existe por que a maioria as instituiu assim, existentes. O exército não atira no povo quando é o povo como um todo que marcha sobre eles, pois também são povo, ora! Mata-se a mãe, inclusive!! O respeito às leis, os advogados, as prisões, também só existe porque a maioria aceita isso.

Mas agora vem o pior: aceitar... é um termo não muito correto. Nascemos sob esta bandeira, nao nos perguntaram nada, passamos boa parte de nossos dias de vida sentandos em carteiras onde nos dizem coisas que sequer nos interessam, que não nos fazem sentido e que em sua grande maioria sequer aproveitaremos de qualquer maneira. Não acho que aceitar seja a palavra, acho que não tivemos escolha.

vão dizer: não gostas da sociedade, saia, vá para floresta! Thoreau fez isso, e foram lá cobrar seus impostos! E tem coisas que eu amo que estão nesta sociedade, mas que não são esta sociedade, como minha família esquisita, meus animais de estimação (me convenço de que na verdade eu é que sou o animal de estimação deles), e a própria subversão e esperança de que um dia esta sociedade seja um bom lugar! O problema é como a sociedade se conformou (em todos os sentidos).

Uma velha brincadeira: se não conhecêssemos esse mundo, e tivessemos que moldar um mundo sem saber em que posição cairíamos nele, aceitaríamos que existisse uma força policial que reprimisse as greves legítimas dos trabalhadores em busca de melhores condições de trabalho [lembre-se, você poderia vir como um policial, ou como um trabalhador - ou ainda como o filho faminto dele!!]? Aliás, você permitiria que existisse um mundo onde a exploração fosse tamanha a ponto de que trabalhadores se colocassem em estado de greve?

As coisas estão como estão por que a maioria não parou pra pensar no estado das coisas. Simplesmente formam-se, ano após ano, milhares e milhares de jovens que jamais questionarão o status quo, e aliás, em sua grande maioria, estão mesmo é ativos para o consumo, preparados para competir: quem compra mais?! No mundo do ter, precisamos mesmo de polícia, e precisamos mesmo viver a ilusão de que estamos protegidos. Quando o medo aumenta, aumenta-se as verbas para as forças militares... e voltamos ao início de V de Vingança.

Para mim, a polícia não defende o povo. Defende interesses específicos, de classes específicas. Seja filho de um desembargador e ande desembargadamente, mas seja o filho de um pai desconhecido, de um favelado, ou mesmo de um trabalhador qualquer... sofrerá as tremendas consequencias da lei, de acordo com sua posição social, pois claro. A lei não é para todos, mas para os bodes expiatórios.

Os cães que gostam de morder, abuso de poder, usam-se os cassetetes, as armas, os punhos, o distintivo e os sacos pretos. Somos todos filhos do Estado, preparem-se para os castigos. Um dia precisarão deles, e verão a quem servem.

Gostamos tanto assim desse cabaré depravado?

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